Um Disco que Curto #05 – Jorge Ben – 10 Anos Depois
Nesta coluna, quero falar sobre como era curtir a black music e os bailes dos anos 80 e 90, no meu ponto de vista, para quem não viveu aquele tempo entender e para quem viveu relembrar.
Naquela época, o nosso repertório musical era menor do que o de hoje. Não havia internet, aplicativos de streaming, YouTube, Spotify ou blogs para baixar discos. Então, a saída era compartilhar fitas cassete e discos de vinil.
O legal era o som das vitrolas que ouvíamos ao passar pelas ruas. Os discos de vinil não paravam de rolar. Nos finais de semanas, era tradição colocar as caixas para fora de casa, nos muros ou nas janelas, com o som no último volume.
As músicas às quais tínhamos acesso no Brasil eram de artistas já consagrados, selecionados pelas gravadoras. O que predominava e tocava com mais frequência era Roberto Carlos, claro. Aliás, como ele lançava um disco por ano sempre próximo a dezembro, muitos recebiam o álbum do “rei” como presente de Natal.
Naquele tempo, os álbuns com temas de novela também eram boas alternativas, já que tinham músicas bem variadas e com boas gravações. Às vezes, havia algumas faixas para quem curte a black music.
Quando o dinheiro estava curto, ainda tinha a opção de comprar os famosos compactos, que chegavam geralmente com as quatro melhores músicas do LP de um artista.
Mas nem tudo era maravilhoso: na época, quem ouvisse certas músicas era taxado como maloqueiro ou marginal por algumas pessoas. Certas músicas não eram bem aceitas por uma parte da sociedade. Entre elas, estavam a de Bezerra da Silva, Partido em 5, As Baterias Maravilhosas, Racionais MCs, Ndee Naldinho, entre outros.
Jorge Ben em baile na Zona Leste de SP
Mas e os bailes? Falo hoje de uma domingueira na Vila Santa Isabel, bairro na Zona Leste de São Paulo. Era uma festa muito boa que até hoje não sei por que não é tão lembrada. O nome era Brazilian Club, onde em todos os domingos a casa ficava cheia.
Foi lá onde conheci e passei a gostar de um disco que fez muita gente dançar o samba rock. Estou falando do álbum 10 Anos Depois, de Jorge Ben, lançado em 1973. O disco conta com regravações de seus maiores sucessos na comemoração dos então dez anos de carreira do artista.
Hoje me lembro feliz do salão Brazilian Club tocando o medley “Vendedor de Bananas / Cosa Nostra / Bicho do Mato”. Era uma coisa linda, a pista lotava com todos dançando o samba rock e com cada casal mostrando um estilo diferente. Naquela época, passei a apreciar mais as obras de Jorge Ben e a me perguntar de onde ele tira tanta inspiração pras suas músicas.
Obrigado ao Helton Celso Wanderley, que nos alertou sobre nos comentários sobre o nome do salão. O correto é Brazilian Club e não Brasília, como escrevemos anteriormente.